segunda-feira, 7 de outubro de 2019

CHAPEUZINHO VERMELHO EM VERSOS DE CORDEL

Chapeuzinho vermelho: versão versejada
(Manoel Monteiro)


ERA UMA VEZ, é assim
que começa: ERA UMA VEZ
Que todo conto começa,
E, se sempre assim se fez
Não vou fazer diferente
Vou começar lentamente
Contando um conto a vocês.

Pense uma casinha branca
Bem ao lado da estrada
Com o telhado vermelho,
Porta e janela, alpendrada,
Chaminé, céu azulado;
EIS O CENÁRIO MONTADO
Para a história ser contada.

Nessa casinha que está
Logo ali a nossa frente
Morava uma garotinha
Bela, doce, inteligente,
Dessas que alegram o espelho
Era “Chapeuzin” Vermelho
Querida por toda gente.

Ganhou esse nome por
Andar com uma capinha
E um capuz dessa cor,
Esse costume que tinha
De usar capa e capuz
Dava-lhe o brilho da luz
Que o sol tem de manhazinha.

Os olhos de Chapeuzinho
Eram azuis e o rosto
Da cor de romã, a pele
Macia que dava gosto,
A face, tela pueril,
A voz, sonata infantil,
Qual trino d’ave composto.

A Chapeuzinho Vermelho
Um dia alegre brincava
Atrás de uma borboleta
Que de flor em flor pousava
Nisso ouviu a mãe chamar
E dar-lhe um cesto a levar
Para a vó que o aguardava.

No cesto que sua mãe
Mandou para a vovozinha
Tinha uns bolinhos de milho,
De centeio e de farinha,
Potes de geleia? Oito,
Uns cem gramas de biscoito,
Uma torta bem quentinha.

A avó de Chapeuzinho
Morava meio distante,
Quando a neta a visitava
Vibrava de radiante
Isso por só ter aquela
Netinha tão boa e bela,
Bela, boa e cativante.

Sua mãe pediu-lhe que
Fosse imediatamente
Levar o presente para
Vovó que estava doente,
Mas, evitasse a floresta,
Pois diziam morar nesta
Um lobo muito insolente.

A menina disse: Eu sei
Mamãe fique descansada.
E saiu cantarolando
A colher flor pela estrada
Para com elas formar
Um buquê e ofertar
A sua avó tão amada.

De flor em flor distraiu-se
E foi adentrando a mata
Nem percebeu quando um vulto
De cauda, focinho e pata,
Aspecto feio, e, robusto,
Falou: Bom dia! Que susto!
Sentiu nessa hora exata.

Quem deu o – bom dia – foi
O lobo que a mãe falou,
Ela respondeu: Bom dia,
Ao que o lobo perguntou:
O que levas nessa cestinha?
Disse ela é pra vovozinha
Que minha mãe preparou.

E tua avó mora longe?
Perguntou a Chapeuzinho,
- Depois do Carvalho Grande,
É logo ali pertinho,
Ela anda meio doente
Por isso vai-lhe um presente
De torta, doce e bolinho.

O lobo disse, já vou,
Nem esperou despedida
Entrou de floresta a dentro
Numa pressa desmedida
Pois sua “mente perversa”
Sentiu naquela conversa
Cheiro e gosto de comida.

Lobo todo dia tem
Um problema a resolver
É que sua barriguinha
Fica exigindo comer,
Por isso ao sabê-la só
Foi a casa da vovó
Essa questão resolver.

Chegou lá bateu a porta
De dentro a boa velhinha
Perguntou quem está batendo .
Respondeu: Sua netinha.
A vó estranhou um pouco
Aquele som feio e rouco
Que a voz da neta não tinha.

E um tanto desconfiada
Indagou: Estás doente?
Porque essa tua voz
Soa-me tão diferente?
O lobo disse: Não sei,
Deve ser por que tomei
Um pouquinho d’água quente.

A vovó ordenou: Entre.
A porta não estava travada
O lobo faminto entrou
E pulou sobre a coitada,
Duma abocanhada só
Tragou a pobre vovó
Indefesa e assustada.

Mas achou pouco o almoço
Então para completar
Deitou na cama da vó
Cobriu-se e foi esperar
Que chapeuzinho chegasse
Pra ele se empanturrar.

Poucos minutos depois
“Chapéu” Vermelho chegou
Sem bater a porta logo
Foi entrando e entregou
As florzinhas que colheu
A “vó” que agradeceu
Ao tempo em que perguntou:

Querida neta o que trazes
Na cesta que tens a mão?
- São bolinhos pra senhora,
Mas vovó que vozeirão,
O que é que a senhora tem?
- É uma gripe, meu bem,
Que deu-me esta rouquidão.

O lobo imitando a vó
Com voz gutural a chama
Netinha dos meus amores
Sabes que vovó te ama?
Chapeuzinho, meu amor,
Venha sentar, por favor,
Ao lado da minha cama.

E Chapeuzinho Vermelho
Ao atender seu pedido
Olhando um braço da vó
Tão peludo e comprido
Estranhando murmurou:
- Vovó seu braço aumentou
E eu nem tinha percebido.

Esses meus braços, netinha,
São para melhor te abraçar.
- E esses teus olhos grandes?
São para melhor te enxergar.
- Vovó, peço que me informes
Se essas orelhas enormes
São para melhor me escutar.

São, meu bem adivinhastes,
És das mais inteligentes.
- Então vovó, me responda,
Para que lhe servem os dentes
E essa enorme bocarra?
São para fazerem uma farra
Mastigando os inocentes.

Chapeuzinho teve um susto
Ao perceber o engano,
Não era a vó, era o lobo,
Esfomeado e tirano
Que pôs sua avó na pança,
E ela, pobre criança
Iria entrar pelo cano.

Quando o lobo abriu a boca
Para engolir Chapeuzinho
Um caçador que passava
Deu-lhe um “tiro” no focinho,
Ele, no susto, expeliu
A vovozinha que viu
A morte bem de pertinho.

A vovó saiu ilesa
Dizendo: Escapei legal!
Essa sua fala é dita
Olhando pra o pessoal
Da plateia porque essa
Fala marca o FIM DA PEÇA
Encenada no local.

Isto por que Chapeuzinho
Vermelho, vovó, lobão
E o caçador são atores
Para mostra-lhes que não
Tem bicho mau, e, insiste
Que LOBO MAL SÓ EXISTE
EM LIVROS DE FICÇÃO.





Gostou dessa versão em cordel?? Ela foi escrita pelo cordelista Manoel Monteiro. Já ouviu falar nele?






Manoel Monteiro nasceu em Bezerros - Pernambuco, no dia 4 de fevereiro de 1937, mas sempre se considerou campinense, pois viveu maior parte de sua vida na cidade de Campina Grande - Paraíba. Dedicou-se a escrever cordéis sobre vários temas, entre eles o imaginário infantil, adaptando fábulas e contos de fadas para a literatura de cordel, como "Chapeuzinho Vermelho: versão versejada", "A cigarra e a formiga: uma fábula educativa e atual", "O gato de botas: um conto de Charles Perrault", "Pinóquio ou o preço da mentira", entre outros. Em junho de 2014, aos  78 anos, o poeta foi encontrado morto em um quarto de hotel, na cidade de Belém, capital do Pará, após oito dias desaparecido.


Qual é o seu conto de fadas favorito? Conte-nos.











Nenhum comentário:

Postar um comentário